terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Segundas de Janeiro

Serra Malte

Se eu quisesse esquecer o que era ser esquecido, bastava ficar só.
Se eu quisesse me perder quando estava perdido, bastava tentar me concentrar.
Me concentrar em algo diluído no ar, em frente aos meus olhos.
Me concentrar em algo que perdi no esquecmento.
Algo que esqueci em minhas perdições.
Bastava querer sentar sozinho e escutar Bowie sem entender nenhuma letra,
se bem que Sabbath também me serviria e teria o mesmo efeito.
O torpor nas dores musculares. As costas retraídas não iriam mais doer.
A pressão na barriga diminuira.
Bastava eu ficar parado no espaço do trânsito, bebendo solitário na avenida
larga, escura e vazia. Deixar me esparramar pelo asfalto da noite, o vento pela janela,
um futuro sem futuro. Um passado que não me queria. Um presente tardio.
Um passo para o nada.
Um passo para a felicidade se é que existe essa tal.
Se eu quisesse parar de pensar bastava ficar só e tudo seria nítido.
Tão nítido que eu não beberia.
Tão nítido que eu esqueceria porque bebia.
Se eu quisesse chegar perto daquilo que sinto hoje, não estaria escrevendo.
A felicidade existe.
Existe sim.
E eu sei que existe.
E isso é que nos faz querer esquecer.
Porque depois ela volta com toda a força.
Bastava que eu abrisse uma cerveja e ficasse só.
Comigo mesmo.
Mas agora já senti o gosto.
E preciso beber para saber o quanto vale a felicidade.
Não deixa de ser uma desculpa.
E é.

3 comentários:

Anônimo disse...

Estou em Porto Alegref fazem duas semanas
e me caiu nas mãos os teus escritos malditos, pela primeira vez..
não sei se mora por aqui, mas se mora,
poderiamos tomar um trago qualquer dia..

Meu blog www.petardo.zip.net


Abraço e vida longa
Angelo

João Carlos Dalmagro Júnior disse...

Como é o nome do teu livro lançado pela Livros do Mal?

Ldasq disse...

Cara, você nunca mais vai atualizar?